Fátima sempre nutriu o sonho de cursar pedagogia. Seu sobrinho incentivou-a e, quando ela foi aprovada no vestibular, deu-lhe de presente a faculdade. Eternamente grata, Fátima hoje vê na sua condição de educadora uma forma de construir um mundo melhor, mais solidário, respeitoso e cordial.

A identificação com a Catavento se dá, para Fátima, neste aspecto humano. “Aqui, todo mundo é igual. Por isso, tenho a oportunidade de aprender e crescer junto com todo mundo,especialmente com as crianças. Além disso, é um ambiente acolhedor em todos os sentidos”, afirma.

Talento com as mãos

“Fafá”, como é carinhosamente chamada pelos alunos e pelos seus familiares, “brinca com as crianças de igual para igual; senta-se no chão, corre e diverte-se com elas”, conta a diretora Myrian Bayeux.

Além de trabalhar na Catavento, Fátima faz, em parceria com a sua irmã, bonecos artesanais em tecido, para  uma organização não governamental, que ajuda crianças com doenças reumáticas.

Myrian conta que Fátima tem um dom com as mãos. “Ela é criativa. Sabe costurar, faz tudo com muito capricho. Faz também uso desse dom manual, com seus alunos, sempre criando com eles alguma coisa interessante”. 

Educar de mãos dadas

Para Fátima, a educação é uma responsabilidade conjunta de família, escola e educadores. “É uma relação de confiança e colaboração”, diz.

Na Catavento, ela afirma que esta relação se manifesta no senso de comunidade. “É lindo perceber que todos usufruem do espaço da escola juntos. E que mesmo depois de muito tempo, este vínculo permanece”, relata, lembrando que ex-alunos de vez em quando aparecem para visitar a escola já adultos.

“Todos os dias, quando chego no portão, agradeço por estar aqui. E acho que as crianças sentem isso, quando correm para me abraçar. É isso que faz tudo valer a pena”, completa.

Mãos que se ajudam

É possível que os talentos manuais e a criatividade tenham sido herdados dos seus pais. O pai tinha uma marcenaria. E a mãe tinha que ser inventiva para dar conta dos diversos afazeres e dos treze filhos. “Ela me ensinou a costurar e a fazer crochê. E eu aprendi a gostar”, conta.

A vida de Fátima é esta ciranda, onde uma mão conecta a outra. A mão que seu sobrinho estendeu a ela é a mão criativa que tem o dom de produzir as brincadeiras e os projetos na Escola; é a mão que ela dá para as crianças e famílias no processo de educação; é a mão que a Catavento oferece a ela quando se constitui em um espaço humano, de acolhimento e cuidado onde todos são iguais; e é também a mão que ajuda o próximo em um gesto de solidariedade.

>> Fatima Ranciaro é a única entre treze irmãos que cursou uma faculdade. Orgulha-se de ter conquistado o sonho que sempre nutriu, sendo professora. Antes de trabalhar na Catavento, teve uma experiência como auxiliar. Na Faculdade, conta que estudou com pessoas muito mais novas, mas isso nunca foi uma questão. “Aproveitei todas as oportunidades que se apresentaram”, explica, dizendo que era à maturidade dela que as colegas recorriam quando tinham que batalhar por algo ou fazer uma apresentação difícil.