“Toda criança é um artista. O problema é como manter-se artista depois de crescido”. A frase atribuída ao pintor Pablo Picasso é similar a outra expressão, esta atribuída ao líder dos Beatles, John Lennon: “Toda criança é uma artista até que lhe contem o contrário”.

Layla Calil Cruz, professora de artes da Catavento, entende que a arte tem um papel fundamental para o ser humano e, por isso, tem muito a fazer pela educação infantil. “A criança entende o mundo por imagens e tem uma flexibilidade maior de acesso aos sentidos. Nós vamos enrijecendo quando crescemos”. 

A arte é fundamental nesta etapa da educação, justamente porque é através dela que a criança se compreende autora. “Todos fazemos arte, somos capazes e temos repertórios e subjetividades. Ainda que tenhamos identidades diferentes, conseguimos acessar nossos repertórios e produzir coisas”, afirma Layla.

Ela explica que vivemos em uma sociedade em que a arte, historicamente, foi virando algo para poucos. “Estou onde estou, porque acredito na democratização da arte. Porque ela está aí para chamar a atenção do ser humano para nutrir suas potências, se entender um ser potente”. 

Arte para estudar a vida 

Esta é a premissa que orienta as aulas e projetos que Layla conduz. “A criança precisa ver que ela está estudando a vida. Que tudo que ela está olhando e observando se cruza. E que existem milhões de jeitos de abordar um mesmo assunto”, diz.

Layla explica que, na primeira infância, as artes visuais estão integradas no descobrimento das crianças, que adquirem autonomia através da plasticidade do mundo e das experiências que elas vivem em uma plenitude de sensações. “Quando a criança está se relacionando com algo, ela mexe com sons, movimentos, com as artes todas misturadas… é um tear bonito”, afirma.

A arte como tear da vida e das suas múltiplas possibilidades é o que encanta Layla. “Eu estou me constituindo como professora de artes e na experiência na Catavento, tenho visto estas potências e experimentado colocar em prática os aprendizados que tenho”, diz. Ela explica que procura integração e que na Escola acontece “um ensinar em comunhão com as professoras que estão ali e que fazem trabalhos visuais de arte, são parceiras”.

Ambiente acolhedor

Procurando integração com a arte, Layla encontrou acolhimento; mesmo chegando na Escola em meio aos desafios da pandemia e das medidas de isolamento. “Aqui, existe abertura para dizer o que funciona e não funciona; e para mudar. Temos nos adaptado ao possível e é legal, porque dou esse retorno para a equipe da Direção e elas também conversam comigo, dão devolutivas. Isso permite que tiremos coisas boas de toda esta situação”, conta a professora, referindo-se ao desafio que o contexto pandêmico apresenta.

Esta troca, para ela, é engrandecedora, assim como os retornos que chegam das famílias. “Isso vai permitindo que eu conheça particularidades das crianças. Elas são abertas, adoram a aula e são carinhosas. Aqui, o ambiente favorece esse acolhimento”, diz.

Artista desde criança

Layla é formada em artes visuais pelo Instituto de Artes da Unesp (Bacharelado e Licenciatura). A arte a acompanha desde a infância. “Minha família escolheu uma educação baseada em metodologias construtivistas e sempre fui muito estimulada. Meus pais são arquitetos, meu pai sempre desenhou e meu avô se formou em química, mas era pintor”, explica.

Na escola, Layla teve contato com todas as frentes artísticas. “Sempre fez sentido para mim”, diz. Ela terminou o colegial sem saber que carreira seguir. “Eu pensava: ‘Gosto de desenhar. Em que mercado posso aplicar esse meu interesse?’”, recorda. Sua mãe a incentivava a prestar arquitetura, ela prestou design e não passou. Foi em uma viagem que a certeza do caminho das artes chegou. “Nesta primeira viagem sozinha, percebi que meu interesse estava nas artes visuais. Entrei na faculdade pela minha habilidade de desenhar, mas lá eu descobri que poderia fazer licenciatura e me encantei pela educação”, lembra.

Em 2015, em outra viagem por conta de um curso de pintura de modelo vivo, o encantamento ganhou ainda mais corpo. “No lugar onde eu estava hospedada, eu cuidava de uma criança. Foi aí que eu percebi que tinha muita identidade com a educação infantil”. No retorno da viagem, ela procurou trabalhos em escolas. Atuou no Oswald de Andrade, onde era assistente do ateliê de artes; e na Grão de Chão, onde foi também professora de classe. “Cada vez mais eu fui entendendo que gosto de educação infantil e de ser professora de sala, mas gosto muito de artes visuais. Esta é minha formação e é com o que tenho mais identidade”.