Em entrevista, Pedro Giovannetti, pai da Iolanda e professor de História, fala sobre o Folclore brasileiro para além dos estereótipos e afirma a importância de trabalharmos com a nossa Cultura e os nossos heróis na educação infantil. “O Folclore é uma forma de tirar o olhar de fora e voltar ele para dentro. É olhar para o Brasil como ponto de partida”, diz.

Pedro é professor de História de Ensino Fundamental II e Ensino Médio e pai da Iolanda. Ele tem apoiado a Escola Catavento na construção de referências para o Projeto Pedagógico deste ano, que vai tratar do Folclore Brasileiro. “A oportunidade surgiu de um diálogo onde expressei para a Escola meu desejo de aprender mais. Busco compreender o Folclore como fonte histórica, mas não sou especialista no tema e acho que estudar com as crianças pode ser uma oportunidade de aprender mais e junto com outros pais e mães”, disse.

Pedro nos contou por que acha importante estudar Folclore na escola e especialmente na Educação Infantil. E explicou de que Folclore estamos falando, para além das convenções e fantasias.

Confira o depoimento completo de Pedro.

Por que estudar folclore na escola?

Acredito que o traço cultural mais definidor do brasileiro hoje, infelizmente, é o “viralatismo”, expressão que foi usada na década de 50 por Nelson Rodrigues para analisar a derrota do Brasil na Copa (o Brasil perdeu a final da Copa para Uruguai no episódio que ficou conhecido como “Maracanaço”). Depois de Rodrigues, outros autores trabalharam com esta ideia e outras correlatas. Celso Furtado fala que o subdesenvolvimento do Brasil e de outros países periféricos seria uma condição não somente econômica, mas também cultural, que se expressa, essencialmente, por assimilarmos coisas que vem do estrangeiro como se fossem a referência suprema.

Pense na quantidade de coisas de fora que assimilamos e achamos que é o supra-sumo? Cultura, comida, modelos educacionais… assimilamos estas coisas sem olhar internamente para os nossos próprios modelos.

O Folclore é uma forma de tirar o olhar de fora e voltar ele para dentro. É olhar para o Brasil como ponto de partida.

Se, por um lado, temos o Halloween, que é muito interessante, também temos, por outro lado, aqui nossas manifestações. O mais importante é olhar para o Brasil e pensar nas nossas referências, nos nossos modelos.

O Folclore proporciona este olhar para o que as populações locais viveram e produziram. Sabendo que o brasileiro é essencialmente um povo miscigenado e que produzimos diversas referências culturais.

Qual o papel da escola e educação infantil na construção desse olhar?

A escola é importante, por ser um espaço aberto para falarmos destes assuntos. Hoje, os espaços de produção cultural são hegemonizados por grandes grupos financeiros, que trazem para o Brasil estas abordagens vindas de fora. Os grandes grupos educacionais acabam incorporando estas categorias estrangeiras e deixam de lado as nossas. A escola pode e deve ser uma forma de resistência em relação a estas imposições que chegam de fora, por ser um ponto que oferece outro tipo de reflexão.

É fundamental falar de folclore nas escolas para colocar as crianças em contato com estas categorias. Especialmente na Educação Infantil, existe um potencial enorme, porque o Folclore é muito lúdico. As crianças querem brincar, simular personagens e desejam o fantástico, o extraordinário e o Folclore é isso sem precisar recorrer ao superman e ao batman. Não que elas não possam. Mas para que eles saibam que existem estes heróis, mas também existe o Curupira.

De que Folclore estamos falando?

Se estamos falando de Brasil e de nossas tradições culturais, não cabe fazer o espalhafatoso e promover a superficialidade. O folclore tem que ser tratado como fonte Histórica. É preciso interpretá-lo como fonte histórica e entender que mesmo sendo fantasia, existem uma série de elementos relacionados a questões que a cultura local coloca para nós. Por que o Curupira defende a floresta dos caçadores? Quem são os caçadores historicamente no Brasil? O que eles queriam com as populações que aqui estavam? Ele não é apenas uma criatura fantástica. Ele foi criado para se referir a algo que existiu na nossa História. Cada lenda traz sempre uma reflexão, uma mensagem, uma história. E nesse momento, o lúdico e a brincadeira põem esta questão em cena. As crianças podem não saber formular que o Folclore é uma forma de resistência ao domínio português. Mas podem formular que o Curupira era de um povo que foi perseguido e que tinha um herói para defende-lo de outro que queria dominá-lo.